A lagartixa e o lobo mau
Era no vale de uma serra, muito muito alta. Era tão alta que as fragas pareciam tocar no céu. De cima ao fundo daquela serra eram só rochas e pinheiros bravos e tudo isto fazia do sitio um panorama magnifico de vales e no meio destes aldeias e vilas todas mais atractivas umas que as outras. Estas eram as povoações típicas que pareciam pousadas nas encostas e picos da serra. Os habitantes deste lindo paraíso consideravam mesmo que a serra tinha uma beleza digna de nota nas demais épocas do ano com especial destaque para o Outono. Mas, do outono ainda estamos longe por hoje era um desses dias ardentes de verão onde a natureza parecia adormecida debaixo de tanto calor. Repleta de agulhas de pinheiro silvestre, a terra estava seca nas encostas das montanhas, onde a flora dobrava sob a sede que não podia ser emanada por falta de chuva. Mesmo os ramos de pinheiros pareciam se mover em direcção à terra em busca da frescura que não achavam no ar, e essa atitude dava-lhes a aparência de grandes velas baixando no meio de um oceano onde o vento ausento não puxava as velas.
No meio desta flora também se escondia a fauna dos mais grandes aos mais pequeninos bichos que viviam naquela serra. Mamíferos, aves, répteis e anfíbios. O mais comum deles era o javali, o mais raro era o lobo mas, por vezes quem tinha sorte ainda o podia ver, depois vinham os coelhos-bravos-europeus e associados a água a toupeira-de-agua, a lontra,a o lagarto-de-água e muitos mais que não vou nomear aqui porque a lista seria longa demais. E como todos aqueles que viviam ali, também morriam a sede. Os mais fortes deles atreviam-se a descerem aquelas encostas e aproximavam-se das aldeias onde podiam encontrar de comer e beber.
Mas, mesmo linda e maravilhosa que seja esta fauna diversificada vou-me atardar sobre duas espécies que têm todo o interesse nesta minha historia: O lobo e a lagartixa-de-montanha.
Não se sabe porquê, enfim eu não sei porquê mas mais ou menos adivinho, os humanos têm receio por estas duas criaturas, talvez seja que o humano tem sempre medo do que não conhece e assim nascem lendas como as do lobo mau. E então para bem conhecerem estas duas criaturas que também são de Deus, vou as apresentar um pouquinho.
Em primeiro a lagartixa-de-montanha, que é um animal aplanado e tem membros pentadáctilos. As escamas dorsais são geralmente imbricadas, pontiagudas e com uma carena central
Dorsal e lateralmente apresentam tons pardos ou esverdeados, com duas linhas dorso-laterais nítidas de cor amarelada ou branca. O ventre é esbranquiçado. Por trás da inserção dos membros existem geralmente manchas azuladas. Na região posterior do corpo e começo da cauda, as tonalidades são mais esverdeadas. A coloração dos juvenis é semelhante, embora as linhas dorso-laterais possam não ser tão nítidas.
Em seguida o lobo. O lobo é, tal como o cão, da família dos canídeos e do género Canis e, por isso, também, è um animal de grupo. Esses grupos podem ser maiores ou menores, dependendo da área territorial que têm à sua disposição e da quantidade de alimentos que nela encontram. Quando a alimentação é escassa, há uma adaptação da espécie a essa realidade e os lobos começam a viver aos casais, que se fazem acompanhar dos seus filhotes, até à idade de, também, acasalarem. O lobo cinzento é muito semelhante ao pastor husky ou alemão, mas tem o corpo mais magro, peito estreito, pernas mais longas e mais fortes. As almofadas de suas patas traseiras têm mais de 38 mm de diâmetro. A pelagem pode ser de qualquer cor do branco ao preto, cinza e marrom. No final da primavera, o Lobo Cinzento muda a sua pelagem. O pelo bastante raso no verão, transforma-se no inverno num pelo longo e sedoso.
Era então a apresentação destas duas criaturas tão diferentes mas, magnificas que não têm nada a ver uma com a outra mas, que a fome e a sede vai obriga-las a conviverem as duas.
Então naquela serra com as encostas cheias de pinheiros bravos havia também rochas imensas as vezes mais grandes do que uma casa, vinham depois as mais pequenas e as pedras. Por baixo delas a terra estava fresca e era naqueles cantinhos sombrios que se escondia uma lagartixa. De tempos a tempos ela la saia do buraquito para tomar ou pouco de sol e logo se escondia outra vez. Esse dia o cantinho dela estava quente demais e ela então se atreveu a sair para mais longe.
Ela foi andando ,andando com suas patas a raspar o chão, e se escondia sob a menor pedra onde ela descansava por um instante antes de continuar sua viagem. Sua cabeçinha
evantada ela observava por todos os lados à medida que como estava ganhando terreno. Subitamente, ela parou para assistir, seus sentidos passaram a sentir alguma coisa. O cheiro que fazia cócegas em seu nariz era o cheiro da água. E então a sede era tanta que ela se atreveu demais e já estava quase a chegar ao bordo do rio onde um fio de água ainda corria que parou de repente sua cauda presa por algo que ela não tinha visto.
- Se vais mais para a frente ficas sem a tua cauda.
- Ei! minha cauda, quem me segura assim?
A lagartixa tinha falando com bravura mas, algo lhe fazia entender que ela estava em perigo e só lhe dava vontade de fugir o mais rápido possível mas, ela sabia que se desse um paço para a frente ficava sem cauda.
- Quem é você? Perguntou ela.
Pois ela era tão pequenina que mesmo erguendo o mais possível a sua cabecinha ela não conseguia atingir nada mais que uma espécie de tronco de árvore peludo.
- Sou eu! A voz grossa vinha do alto e a lagartixa começa a ter medo demais.
- Pois é você mas, quem? Eu só vejo um tronco de árvore peludo.
Logo em seguida das palavras dela um espécie almofada escura apareceu em frente do seu focinho.
- Sou eu! O lobo mau!
- Ahhh!! O loboooo mau? Ai jasus, o que é que me vai acontecer então?
- Vê-la então o que é pode acontecer a quem cruza um lobo mau???
- Não sei disse a lagartixa. Nunca tinha encontrado nenhum, só ouvi falar de umas lendas, que diziam que os lobos tinham dentes grandes e feios e que eram muito, muito maus.
- Com certeza que são maus, Não foi assim que me apresentei?
- Ah! sim é verdade.
E como se o lobo lhe queria provar que era mesmo mau , levantou a sua cabeça e uivou de tal maneira que a lagartixa ficou a tremer.
- Ai, meus ouvidos, não é preciso uivar tão forte, não sou surda.
E como se o lobo ainda lhe quisesse meter mais medo baixou seu focinho e aproximou-a da pobre lagartixa que mais tremia.
- Eu sou o lobo mau e vou te comer.
- Ah!? Me comer?
- Sim! Vou te comer.
- Ai...ai..ai....e depois de me comer o que vai fazer?
- Procurar mais alguma coisa para continuar o jantar.
A lagartixa deu uma gargalhada e fechou os olhos enquanto o lobo baixou ainda mais seu focinho que quase tocava o seu.
- Pois.. pois... mas depois?
- Olha essa pergunta! Eu, enquanto tenho fome vou sempre comendo, né?
E mais uma gargalhada da lagartixa que fez franzir as sobrancelhas do lobo.
- Mau..mau..Eu sou o lobo mau e ris te?
- Pois sim que me rio... e já agora deixe la a minha cauda que você não é assim tão ligeiro.
Com as palavras da lagartixa, o lobo mau mostrou seus dentes cerrados rosnando mas, mesmo assim levantou sua pata e logo a lagartixa se encontrou livre do peso da pata do lobo.
- Obrigado, assim já esta melhor. Ora bem, com que então tem fome?
- Tenho fome, tenho e muita, por isso vou te comer.
- Aiii! Isso é que lhe vai encher a barriga! Se ao menos eu fosse mais gorda, mas sou tão pequenina e magrinha. Olhe para isto, só ossos.
- Não importa, serve só para me limpar os dentes, com a tua cauda.
- Aiiii! Que mauuu você é, realmente!
- Pois sou, mesmo.. Sou o lobo mau e vou te comer.
- Não faça isso não, que sou muito pequenina e vou mesmo ficar entalada num dente..eu arranjo-lhe comer......conheço ali uma capoeira, cheia de galinhas gordinhas que você vai-se regalar. E tem mais coelhinhos e perus e tudo gordinho.
- E como você sabe?
O lobo estava todo espantado com o que a lagartixa lhe estava a dizer, ele nem queria acreditar.
- Sei porque passo la todos os dias para comer uns ovitos ainda quentinhos dos ninhos das galinhas.. Mmmm! São tão bons.
- E os donos nunca a viram?
- Pois não, responde a lagartixa contente. Os donos vivem longe e nem nunca os cruzei. Quer que o leve la?
As palavras da lagartixa deixavam o lobo pensativo e depois de uma ultima olhada para o réptil ele ficou convencido que o que ela oferecia era melhor que encher a barriga com lagartos que quase nem sentia passar na garganta quando os estivasse a engolir.
- Então podemos ser amigos! Levas-me a capoeira ,como as galinhas e tudo o que la há e tu regalas-te com os ovos!
- Yepaaaa! Pode ser..vamos então....mas....
A lagartixa que já se ia adiantado parou e voltou-se para o lobo.
Como já disse sou pequenina, e como agora somos amigos, tu podes me levar as costas que chegamos la mais depressa.
A lagartixa era fina e o lobo não ficou enganado mas, a fome era tanta que acenou com a cabeça que sim.
- Ta bem sobe por mim a cima e vamos mas, cautela-te que corro rápido e podes cair.
Depois de terem andando um pouco, a lagartixa disse.
- Hey! Para ai!
- Para que?
- Vês aquela casa velha?
Erguendo sua cabeça as palavras da lagartixa, o lobo olhou para a frente. De frente para eles um galinheiro rodeado de malhas de arame, no meio dele galinhas branquinhas gordinhas e todas recheadas. O lobo olhava para elas sem querer acreditar, seus olhos grande abertos, a sua boca aguada em frente de tantos deliciosos petiscos.
- Sim e depois?
- Ali é a nossa mina de ouro!
- Como assim..?
- Ta vendo aquilo branco, são as tuas galinhas!
- Hummm!! Tou a gostar de ver!
- Então é assim, temos que ter cuidado porque esta la um cão!
O Lobo já com as babas nos cantos da boca e com o sabor das saborosas galinhas, responde.
- E só agora me dizes?
- Porquê?? Não achas que te falei a tempo?
- Tens razão, vamos ou não? Pergunta o lobo.
- Vamos la ,já estou sentindo o sabor dos ovinhos.
E foi assim que o lobo e a lagartixa se aproximaram do capoeiro pé ante pé. A primeira fase estava ultrapassada mas, o maior problema ainda não estava resolvido. O cão estava la e tinha a reputação de ser um bom guarda. Já estavam quase ao pé da capoeira quando a lagartixa disse ao lobo de voz baixa.
- Tas a vê-lo, olha-o além!
- Tou a ver tou, parece feroz.
- E, é mesmo se me agarra engole-me de uma vez.
Os dois compadres falavam de voz baixinha como amigos que estavam preparando um plano de ataque.
- Temos que ser mais finos do que ele, dizia a lagartixa. Eu, para comer os ovinhos tenho que entrar no poleiro e tu só tens de entrar na capoeira rodeada de malhas de arame. O problema agora é quem la vai.
- Como fazemos então? Perguntou o lobo.
- É simples como sou mais pequenina, vou distrair o cão enquanto tu vais agarrar as galinhas.
- Boa, disse o lobo. Vai então.
Foi então que a lagartixa rastejou pelo chão andou um pouquito e parou, olhando pra trás:
- Não te esqueças de mim traz-me alguns ovos.
- Pois sim responde o lobo. Vai, depressa mas cautela-te.
Mais uns metros e a lagartixa chegou ao pé do cão.
- Ola senhor cão! Tudo bom com você?
- Ola lagartixa, disse este olhando para o chão. És atrevida, não vês que sou um cão de guarda e se não desapareces como-te...
- Hihihihihi! Riu-se a lagartixa. Realmente, não sei mesmo o que tenho, devo ser uma lagartixa especial, que toda a gente me quer comer.
- Olha! E quem te quer comer sem ser eu?
- O lobo mau, dizia ela...
E a lagartixa ia conversando com o cão, no mesmo momento o lobo depois de ter entrado no poleiro agarrava duas galinhas das mais gordas que podia haver no poleiro e um cesto de ovos para a lagartixa e saia do galinheiro a correr. E assim que se encontrou longe assobiou para a amiga lagartixa.
- Um lobo? Exclamava o cão.
- Sim um lobo, respondia a lagartixa. Mas desculpe la que ele já me esta a chamar.
E sem que o cão possa fazer mais alguma coisa a lagartixa raspou-se e chegou o mais rápido possível ao junto do seu amigo lobo que a estava esperando debaixo de uma árvore.
Ao ver os ovinhos no cesto a lagartixa quase saltou ao ar.
Pouco tempo depois os dois amigos com a barriga cheia estavam encostados a uma rocha onde estavam a apreciar o proveito de um jantar que tinha sido real. Não muito longe deles um fiozinho de agua que corria no rio quase seco enchia com seu barulho cristalino a paz da noite que vinha ajudar a serra e todos os seus habitantes a terem um repouso bem merecido. Os nossos amigos adormecidos agora, nunca mais se separaram e cada dia arranjavam maneira de se ajudarem um ao outro.
FIM
Gabriela Gomes da Fonseca