A Gracinha e o jardim maravilhoso
Era uma vez numa cidade muito, muito grande. Naquela cidade como todas aquelas que eram deste tamanho, só havia bairros com prédios altos e com muitas janelas de baixo ao fundo. As ruas da cidade não desenchiam de carros de noite e de dia e buzinavam sempre, sempre e sempre. Era um barulho pouco suportável mas, é assim nas grandes cidades a gente era tanta que só em casa é que se podia encontrar algum silêncio.
No meio de um prédio privado desta cidade, no alto de um bairro num apartamento riquíssimo, vivia uma menina. Ela era toda morena e formosinha mas, o que mais se reparava quando se olhava para ela, eram os seus olhos que tinham sempre um ar triste.
Não que a sua vida fosse triste, de facto a menina tinha os seus pais e dois irmãos mais novos do que ela e no seu quartinho ela tinha todos os brinquedos que mais gostava e quando um se partia os paizinhos da menina logo lhe compravam o mesmo, apenas reparava pela falta do brinquedo.
Sem serem ricos, os pais da menina tinham um trabalho com muitas responsabilidades que os mantinham longe do lar a maior parte do tempo. Era assim que a menina e seus irmãos eram aconchegados por duas damas empregadas da casa familiar. A menina podia se gabar de ter uma vida muito, muito feliz mas, nada disso se podia dizer quando se olhava para os olhos dela. Pois ela era muito solitária e quando podia escapar as brincadeiras dos seus irmãos ela fechava-se no seu quarto e brincava sozinha. Sozinha, não, ela tinha muitos brinquedos e as prateleiras da sua biblioteca estavam cheias de livros. Nos livros ela tinha procurado e encontrado todos os alimentos necessários para que sua imaginação fosse a mais fértil possível. E então assim que pegava num livro sua a mente viajava ao ritmo das suas leituras.
Mas, desde um certo tempo nem os livros nem os brinquedos tinham graça para ela. Sentada na sua cama ela percorria do olhar o seu quarto e suspirava. Ela não se sentia bem mas, não sabia explicar porquê. Suspirando uma ultima vez, levanta-se de repente pega pela mão da sua boneca, abre a porta do quarto e sai porta fora, atravessa o corredor devagarinho e espreita uma vez a volta dela antes de abrir a porta do apartamento e sai, vai direita ao elevador e alguns andares para baixo ela passa a porta da entrada do bairro alto.
Em frente dela era só carros, uns vinham da direita outros da esquerda num barulho de motores e buzinas. Durante um pequeno momento ela sentiu-se um pouco perdida e até lhe deu para voltar atrás mas, ao pensar em se encontrar fechada no seu quarto, ela abanou a cabeça apertou a boneca contra seu peitinho virou-se para a direita e começou a andar pelo passeio.
Obviamente no passeio não ia so ela a andar, de todos os lados que ela se virava havia gente, casais, pessoas sozinhas, jovens, velhos, enfim, humanos de toda a qualidade. Para a Gracinha, todas as pessoas pareciam se conhecer porque alguns davam uma gargalhada outros iam a falar, só ela é que não. Só ela é que ia sozinha e assim a Gracinha se sentia ainda mais solitária.
E ela foi andando, andando, andando, atravessou estradas, avenidas até chegar em frente de duas portas de ferro gigantescas, todas douradas com ouro, eram as portas do jardim da cidade. Abertas em grande, as portas estavam mesmo a convidar a entrar naquele jardim e foi assim que apertando a sua boneca mais forte contra seu peitinho a Gracinha deu alguns paços em frente e entrou no jardim.
O Jardim, como todos os jardins desta importancia tinha um guarda que logo deu conta da presença da Gracinha assim que ela passou as grandes portas e pousava os seus pés no interior do jardim.
- Ola! Então menina, vieste passear.
- Boa tarde senhor guarda, disse ela, sim vim, estava tão
aborrecida em casa que vim dar uma volta por aqui.
- Ah, sim! Então não tens brinquedos, nem irmãos para brincar contigo? Perguntou o guarda.
- Sim tenho, respondeu a Gracinha. Mas já não acho graça aos meus brinquedos e meus irmãos....enfim meus irmãos são muito pequeninos para brincarem comigo.
A voz da Gracinha tinha uma entoação de tristeza e o guarda olhou para ela com mais atenção e ele se apercebeu do que a garota não era feliz.
Olhando-a dos pés a cabeça viu as calças de jeans e o t-shirt que ela usava. Eram fatos novos e com marca, com certeza a miúda não era daquelas que vinham das zonas desfavorecidas. Durante um instante o guarda teve vontade de encolher os ombros e pegar no braço da garota e puxa-la fora do jardim, tinha lá tempo para se preocupar duma menina que devia ter demais e que mais queria. Mas, ele não fez isso, então, de repente teve uma ideia.
- Diz-la menina? Pergunta ele subitamente. Já visitaste o jardim?
- Já, responde logo a miúda. Uma vez com meus pais e muitas com a Lurdes.
- A Lurdes é uma amiga tua?
- Não é uma das damas que cuida de mim e de meus irmãos.
- Pois...pois Então diz-me la, a Lurdes levou-te até ao fundo do jardim, além? Pergunta o guarda apontado para o fundo do jardim.
Seus olhos grande abertos, a Gracinha seguiu a mão do guarda que apontava para longe, muito longe num sitio do jardim onde se via o topo das árvores que pareciam gigantescas e misteriosas.
- Não, acaba ela por dizer. Não, tão longe.
- E gostavas de ir até la?
- Sim, acho que gostava muito, responde ela sorrindo.
- Olha como vez eu já sou velho, as minhas pernas já não me podem levar tão longe mas, conheço um amigo que o vai fazer com prazer e muito bem.
- Um amigo? Quem é esse amigo?
- Anda vem comigo!
E foi então que o guarda seguido da Gracinha se aproximou de uma cabana de jardim construída com troncos. Em frente da cabana num posto alteio um cão de pelo comprido e branco estava sentado, fiel guarda da casa. O guarda apresentou o seu amigo a Gracinha e pouco tempo depois com passos certos o cão e a miúda iam andando pelos caminhos do jardim alinhado com flores e árvores. Eles já tinham andado um pouco quando o cão parou, virou-se para a Gracinha e disse.
- Pareces não ter medo e nem sequer sabes onde vais!
- Medo! Não tenho medo, começou ela por dizer. Mas....tu falas? Não pode ser, és um cão.
- Claro que sou um cão, ladrou ele. E falo sim..mas, quer dizer só tu me podes ouvir!
- Eu? E porque será?
- Hum! Ainda é muito cedo para te dizer, um dia talvez já nem vais precisar de perguntar. No entanto vamos andando, porquê ainda temos um longo caminho para andar.
A Gracinha acenou a cabeça que sim e guiada pelo cão a menina foi então andando, andando o Mondego, que era o nome do cão, ia-lhe mostrando tudo e cada vez lhe contava uma anedota por cada flor, árvore e mesmo algumas pedras que dizia ele tinham aparecido ali com a ajuda de alguma magia.
Ao fim de um certo tempo eles já tinham andando muito e os passos da Gracinha começavam a ser mais lentos, o cão pressentiu o cansaço da miúda e parou.
- Desculpa, esqueci-me de te perguntar se tinhas trazido comer contigo e algo para beber.
- Não, disse ela. Nem pensei nisso mas, agora que o dizes já começo a sentir fome e sede.
- Então olha que há muito que comer a tua volta, serve-te come e bebe.
- OOOOhhh!! exclama ela ao ver como por magia as árvores a volta deles se carregavam de frutas .
Ao lado de uma árvore que parecia já ter muitos anos, até la corria um fiozinho de agua.
- E magico, exclama ela outra vez. Como isto pode ser? Não estava aqui nada e agora é só lindos frutos e até agua. Mas como é possível? Quem fez aparecer isto tudo? Nunca na minha vida vi fruta deste tamanho, são enormes. É algum milagre? Mondego responde.
- Xiii! Tanta pergunta, ri-se o cão. Também és curiosa e tens razão, mas, não é hora de perguntas, come e bebe que depois temos que nos meter a caminho.
E a Gracinha ergueu-se ao pé de uma árvore para colher duas maçãs grossas tenrinhas e gostosas. Depois de ter dado uma ao Mondego ela mordeu na dela e comeu-a até so lhe ficar na mão um pequeno caroço. Logo em seguida ela ajoelhou-se ao pé do fio de agua e bebeu o que podia e mais.
Foi alguma magia ou aquela agua era alguma coisa sagrada, porque a Gracinha naquele mesmo instante em que tinha bebido sentiu uma força e uma alegria que ela nunca tinha tido. E foi assim, que rodeada pelo Mondego ela foi andando e salteando pelos caminhos floridos do jardim. E flores havia la muitas e mais belas umas do que as outras, em facto sem se puder explicar como é que podia ser, as flores de pequeninas quando a Gracinha se aproximava ficavam a crescer assim que ela as ultrapassava e continuava o seu caminho. Este jardim era mesmo magico.
Depois de ter andando mais uns momentos um barulho alertou o seus ouvidos. Curiosa a Gracinha logo parou e se aproximou de uma árvore de onde podia ver um largo debaixo de um carvalho. Algumas folhas estavam caídas no chão e qualquer coisa as fazia mexer olhando para o lado esquerdo cruzou os olhos húmidos do cão que logo depois apontavam para a frente mostrando um animalzinho castanho que andava a brincar no meio das folhas.
- É um esquilo!? Exclama ela.
- É mesmo Gracinha mas, fala baixinho que ele vai fugir.
Logo em seguida as palavras do cão um riso engraçado se fez ouvir e um narizito todo castanho e húmido se apontou em frente do rosto da Gracinha que recuou espantada.
- Ei!
- Hihihihihi! Eu fugir a pois não mas, ela sim que até recuou.
- Hahahahaha! Pois..pois..mas, não façamos troça que ela vai-se zangar.
Com seus olhos grande e abertos a Gracinha olhava para o cão e para o animal que estava pendurado pelo rabo a um ramo do carvalho e de cabeça para baixo.
- Pois vocês estão mesmo a fazer troça de mim!
Nisto o esquilo virou-se e sentou-se no ramo do carvalho a sua cauda espessa erguida detrás da sua cabecinha, suas garras aguçadas e encurvadas que lhe permitiam trepar às árvores apertavam uma bolota.
- Ola Gracinha! Muito lindo ver-te aqui no nosso jardim maravilhoso.
- Tu és um esquilo? Pergunta a Gracinha. E também falas?
- Claro que sou um esquilo e claro que falo olha esta, aqui todos nos falamos.
- Como é que te chamas?
- Tico-Tico...E giro não é..Tico-Tico! Hihihihi!!
E o esquilo pulava e saltava de ramo em ramo nunca estava quieto e a Gracinha já não sabia para onde olhar. O esquilo era engraçado e corria em todas as direcções sem parar e, ocasionalmente, ele pulava no ar e caia em seus pés, ele deu uma cambalhota e caiu diante da Gracinha sua mão em seu coração, ele fingiu cair inconsciente. Imediatamente, ela correu para ele para o socorrer e logo ele se ergueu e saltou, pulando e a Gracinha não pode conter uma gargalhada.
- Tico-Tico! Sou eu....
E assim ele se aproximou do cão.
- Meu grande amigo, vais levar a menina ao sitio?
- Claro que vou, respondeu o cão deitando uma olhada a menina que se aproximava.
- Onde é que me vais levar Mondego? Perguntou ela.
- Ainda não lhe disseste, interrompeu o Tico-Tico. Olha menina, vamos levar-te a um sitio maravilhoso que tu ainda nunca viste um igual te garanto. Não é Mondi?
- Mondego, o meu nome é Mondego e não Mondi, e parece-me que já te tinha dito isso... Enfim...
O cão tinha tinha-se aproximado do esquilo levantando sua voz mas, nem sequer meteu medo ao Tico-Tico que deu dois saltos para o ar tão engraçados que a Gracinha não se pode conter de rir.
- Bem vejo que tudo esta muito bem ,acrescenta o cão em ver os seus dois amigos tão alegres. Ainda bem assim, olha Gracinha o Tico-Tico disse verdade, vamos te levar para um cantinho deste jardim onde vais ver muitas coisinhas maravilhosas. Mas,....
Interrompendo-se no meio da frase o cão apontou seu focinho para o chão e cheirou a terra.
- Mas? Pergunta a Gracinha. Mas, o que?
- E simples menina, disse o esquilo de repente, tens que acreditar no que vais ver, senão não se vê nada.
- Não se vê nada? Mas, como então? Senão se vê é porque não existe.
- Pois é esse o problema, agora j
á ninguém acredita por isso é que nada se vê. Disse o cão com uma voz triste.
- Mas, eu quero ver, disse logo a Gracinha com a voz muito apressada.
- Também acho que sim Gracinha e isso é uma coisa boa...
- Vamos então, Tico-Tico abre o caminho..
- Vamos la....Hihi sou Tico-Tico e abro o caminho... Vamos la..
O esquilo ia pulando pelo caminho e a Gracinha e o Mondego iam seguindo atrás. Foi assim que rodeados dos pulos do esquilo que os três amigos foram mais para a frente e entraram num sitio do jardim onde o caminho se fazia mais estreito. Foi a Gracinha que primeiro ouviu uma voz pequenina que parecia vir detras de umas grandes pedras.
- Ai..ai..ai minha orelhina.
- Parem! Não ouviram?
- Claro que ouvimos! Dizem os dois amigos da Gracinha.
- Deve ser o Chico, disse logo o esquilo, mais uma vez deve ter entalado uma orelha debaixo de alguma coisa..hihihi!
- Não faças troça Tico-Tico, vamos mas é ajuda-lo.
Antecipando o que ia dizer o cão, o esquilo já tinha saltado para cima de uma rocha e espreitava para trás.
- E mesmo ele, exclamou o esquilo. Então Chico outra vez com problemas de orelha?
- Em vez de fazeres troça, vem mas é ajudar-me.
- Ohhh! Pobrezinho, deixa lá eu ajudo-o.
Ao ouvir a Gracinha, o Chico sorriu e deixou-a aproximar, ajoelhada ao lado dele a menina empurrou a pedra onde a orelha do coelho estava entalada.
- Não estava tão entalado, a pedra era levezinha, podia-se livrar sozinho.
- Ai é! Exclamou o coelho, mas, não seria de maneira tão agradável como as mãos de uma menina tão linda. Obrigada menina linda. Eu sou o Chico e como já pode ver sou um coelho o mais lindo que existe neste jardim.
- O que vale Chico é que és mesmo convencido. Disse o Mondego com um riso. A menina linda chama-se Gracinha e vem visitar o jardim maravilhoso.
Giro era o coelho convencido com seu pelo todo branquinho e um rabinho tão fofinho que parecia um novelo de lã branca, as orelhas eram tão grandes que batiam no chão e por isso as entalava debaixo de tudo.
- Oooh! Que bom, disse o coelho a bater com um pé no chão, devia ser uma demonstração de alegria que logo foi seguida pelos dois pequenos amigos. O coelho e o esquilo mostravam à sua maneira o contentamento deles.
- Biba biba! Lindoo! A menina Gracinha vai ver o jardim... bibaaa..
Ao ver a jubilidade dos seus dois pequenos amigos, o cão abanava a cabeça deitando os olhos ao ar como que dizer “ Meu, Deus ajudai-me, venha aqui e veja isto”. A Gracinha também se ria, ela estava tão contente que se notava no seu rosto os seus olhos pareciam brilhar como um lago quando o sol reflecte na agua. Já eram quatro, a Gracinha e seus três amigos. Eles então foram andando, andando, sempre o Tico-Tico abria o caminho o Mondego ia sempre ao lado da Gracinha e o Chico esperto que ele era aproveitava-se dos braços da Gracinha para ir ao colo e ela la ia acariciando com sua mão leve sobre o pelo macio do coelho.
Já tinham andado muito quando então chegaram em frente de uma clareira. Rodeada de arvores e arbustos algumas flores lindíssimas davam cor e alegria ao sitio, relva verdinha fazia um grande tapete até ao fundo onde pousada no chão estava uma grande rocha assombrada pela encosta de uma grande serra.
- OOOHH! Que sitio tão lindo exclamou a Gracinha apertando o Chico contra o seu peito. Uma serra aqui, mas, não pode ser estamos no meio de uma cidade. Mondego o que é aqui, onde estamos?
- Não sei! Respondeu ele de voz baixa. Ainda não sei.
O Mondego falava e olhava de todos os lados como se estivesse procurando alguma coisa ou alguém.
- Não sabes? E vocês, também não sabem? Perguntou ele virando-se para os dois pequenos amigos.
- Não sabemos, temos que ver primeiro, responderam eles em eco. Esperamos um bocadinho e já se sabe.
A Gracinha não entendia bem o que se estava a passar e olhava para cada um do seus amigos de sobrancelhas franzidas.
- Vamos esperar então! Mas esperar o quê?
A Gracinha falava para ela mesma e ao mesmo tempo avançava para a frente e quando já estava no centro da relva um movimento de cima da rocha a fez parar.
- Quem ai vem que pare já, para a frente não pode avançar mais.
A voz era alta e fazia perceber que vinha de alguém que mandava. A Gracinha levantou a cabeça e olhou para a rocha de onde apareceu um veado com as gralhadas altas no crânio. A Gracinha olhava para ele espantada, ela nunca tinha visto um animal tão bonito e que tinha na sua posição quase arrogante uma humildade magnifica.
- Boa tarde, chamo-me Gracinha e vim visitar este jardim. Pode-me dizer onde estou, os meus amigos não me souberam responder.
- Hum! Na verdade eles não parecem muito espertos, disse ele olhando para cada um deles. Com que então chama-se Gracinha, e vem visitar este jardim! Nada mais?
- Nada! Enfim não sei, nem sequer onde estou!
- Sim! Esta bem, eu sou o Veloz. Mas, quando souberes o que é que vais fazer?
- Vou aqui ficar.
- Ficar aqui?!? Mas, já houve muitos e muitos que quiseram aqui ficar e por isso, este jardim esta quase a desaparecer.
- Ohh! Que pena! Mas, porquê?
- Porque os humanos só precisam do jardim quando se sentem sozinhos, e vêm aqui ter, e depois de instalados só querem destruir.
- Mas, eu não. Eu não vou destruir nada.
- Pois..pois, eu bem quero acreditar mas é complicado, já demos tanta vez a nossa confiança que agora a desilusão tem morada no nosso jardim.
- Pois já entendo, foram traídos e por isso o jardim esta a desaparecer mas, eu não faço isso, não traio ninguém e quero ver o jardim maravilhoso, o Mondego prometeu-me mostrar.
- E, o que é que queres ver no jardim maravilhoso? O que é que pensas aqui encontrar?
- Quero ver tudo, quero ver a magia, eu vi as flores no caminho, elas cresciam quando passávamos por elas, os frutos são imensos e dão comer para toda a gente e o Tico-Tico fala, o Chico também, e o Mondego e tu também falas e quero ver se outros animais também falam e não quero nunca mais me sentir sozinha.
- Tudo isto é lindo mas, são só palavras.
- Não, não são, prometo.
A Gracinha falava e defendia-se com tanta bravura que o veado saltou da rocha e aproximou-se dela.
- Então se realmente falas a sério, fazemos um pacto. Ficas aqui três dias, ao fim desses três dias falamos de novo e logo veremos se mereces de ver o jardim maravilhoso, se não mereces, o jardim desaparece e tu com ele.
- Esta bem, concordo.
Depois deste encontro a Gracinha instalou-se com os seus três amigos numa cabana de troncos e la viveu os três dias marcados. Nos fim dos três dias a Gracinha tinha visitado quase todo o jardim a volta da clareira e sempre se acautelava em não esmagar as flores a não magoar os animais e ela até apanhava alguns lixos que as vezes apareciam no chão, a sua atitude foi tão exemplar que o jardim ia crescendo a volta dela sem que ela desse por ela. Foi então que no fim destes três dias que o Tic-Tico a veio chamar.
- Gracinha tens que ir a clareira. Sabes que tens que falar com o Veloz.
- Sei Tico-Tico. Diz la ,achas que mereço ver o jardim?
- Sei la! Responde o esquilo.
- Eu acho que sim dizia o Chico que estava sempre na companhia da Gracinha.
- Parem de falar disse por fim o Mondego que também não estava longe, não há tempo a perder.
Pouco depois a Gracinha encontrava-se no mesmo sitio de onde tinha falado com o Veloz. Ela sentia-se um pouco nervosa mas, esperava com coragem.
- Então Gracinha o que é pensas do jardim?
- Ainda não o vi, estava a espera que me digas se mereço de o ver.
- Então e diz la o que é que vês a tua volta?
- Um jardim, diz ela rodando a volta dela o olhar.
- Então se vez um jardim que queres ver mais? La tens a tua resposta. Não a achas linda?
- Oohh! E belíssima!
- Pois é e acho menina que ganhaste o pacto.
- Bibaaaaaaaaaaaa!! Linda Gracinha! Bibaaaaaa!! -Hurraaaaaaaaaaahh!!
A volta da Gracinha era só alegria, todos saltavam, pulavam e batiam as palmas e o coelho também com os seus pés no chão o Tico-Tico nem sabia o que fazer para mostrar o seu contentamento. O jardim maravilhoso estava todo lindo e florido como o jardim paradisíaco onde só havia alegria e paz e onde a desilusão tinha feito lugar a magia que só percebem os corações alegres e convencidos de nunca mais conhecerem a solidão. Quando depois da sua aventura a Gracinha voltou para casa o seu coraçãozinho ia mais leve e mais do que tudo os seus olhos nunca mais tiveram este ar triste que sempre pairavam sobre eles. Um objecto tinha aparecido na mesinha de trabalho que ela tinha no seu quarto, um livro grande aberto sobre um jardim maravilhoso e que tinha por titulo.
“ A Gracinha e o jardim maravilhoso”.
De facto desde essa aventura a Gracinha nunca mais se sentiu sozinha porque ela tinha no seu coração um lindo segredo que era aquele de poder estar com seus amigos só em fechar os olhos e assim, ela esqueceu a solidão para sempre.
FIM
Gabriela Gomes da Fonseca