Capitulo 3
Certa manhã, enquanto Enzo tinha acabado de celebrar suas dez primaveras, um homem apresentou-se na sala do convento. O estranho pediu para vê-lo sem especificar o motivo de sua visita ou sua identidade. De natureza alegre e ingênua a única pergunta que perturbava o miúdo era saber quem era esse homem e por que é que ele tinha pedido para falar com ele. Quando se juntou a ele na capela, Enzo ficou impressionado com o olhar severo e a estatura do homem completamente vestido de preto. A escuridão elegante e imponente de seu interlocutor tinha-o intimidado no inicio, enquanto ele detalhava o homem dos pés à cabeça, o coração de Enzo batia como um tambor. Na sua idade uma inteligência aguda já se refletia nos seus olhos que ele tinha negros como as asas de um corvo, que não demorou muito para seguir um preceito que ia ser dele ao longo de sua vida." Se queres uma resposta, faz uma pergunta".
- Signore, foi-me dito que queria falar comigo. Posso saber de que? Ou de quem? Conheço-o?
A voz da criança estava cheia de confiança e refletia uma educação esmerada. Giacomo Montebello di Rivaldi ficou imediatamente cativado. Ele, o banqueiro que nenhuma emoção fazia vacilar, encontrava-se impotente diante desta criança. Hesitante em entrar, ele mal podia suportar a nitidez de olhos negros apontados para ele.
- Bem, eu vejo que ninguém te ensinou a não fazer perguntas aos adultos.
Embeiçado a retribuição do Enzo não se fez esperar muito.
- Mas como eu ia saber quem você é e o que você quer de mim, se não pergunto?
- Bem. Cortou Giacomo drasticamente. Eu concordo com o teu pedido miúdo, uma vez que é teu desejo. Mas tu, quem és tu?
- Eu sou Enzo Montebello! Ele exclamou com orgulho.
- Enzo Montebello eh? Hum! De minha parte, chamo-me Giacomo di Rivaldi.
Ele tinha deliberadamente omitido a dar seu nome completo à criança, mas ficou surpreendido ao vê-lo corar.
- Vejo que o meu nome não é desconhecido para ti. Perfeito! Ele disse, sentado-se num banco, convidando Enzo para se sentar perto dele.
- Sabe que de quem te vem o nome de Montebello?
- Sim, signore, de minha mãe.
- De fato pequeno. E não tens pai?
- Eu tenho um pai signore mas, minha mãe disse-me que ele morava longe e que eu nunca o viria.
Por um momento, Giacomo pensou na mulher trancada no convento, o homem com quem ela o tinha traído e, como se seus pensamentos o torturavam, levantou-se rapidamente e disse secamente:
- De qualquer forma, pequeno, para onde vais ir , o teu nome será Enzo di Rivaldi.
- Para onde vou, signore? E por que me chama Enzo di Rivaldi?
As perguntas choviam da boca do Enzo, enquanto Giacomo se levantava e lhe pegava a mão.
- Sim, vais vir comigo. Deus, eu só vim aqui para ver com os meus próprios olhos. Agora que vi, não vou abalar daqui sem ti!
As falanges de Enzo desapareceram nas garras de Giacomo que se dirigiu rapidamente para a porta da sala e pediu com uma voz forte para ver a freira, que lhe tinha trazido a criança. Enquanto a freira se dobrava para ele, Enzo assustado virou-se para Giacomo, que tinha largado a sua mão e o empurrava suavemente por trás do pescoço.
- Mas, e minha mãe?
A questão saiu como o grito de um desesperado. Giacomo quase fundiu diante dos olhos implorantes de Enzo, mas a flecha envenenada do passado estimulou o seu coração e foi com uma voz seca, que ele disse,
- Tua mãe, esquece-a! Que Deus seja meu testemunha mas, nunca mais a verás! Agora apressa-te de te preparares, vamos partir.
Poucas horas depois a Sicília tornava-se um ponto de cada vez mais pequeno, para a criança que, de pé na ponte do Navio a vela, a via desaparecer.
Vinte anos tinham passado desde aquele dia, Enzo tinha tido pouco tempo para pensar na sua mãe. Sem dúvida, teria sido diferente se ele tivesse visto a mulher que estava chorando e esforçando-se por trás das grades de sua cela no dia em que ele tinha partido da Sicília. Mas o tempo nunca se esquece de nada nem de ninguém, e as circunstâncias da vida, nos faz recordá-los nos momentos mais inesperados.
Um luar tinha ainda mais nebulado seus olhos como as lembranças inundavam sua mente. Perdido em pensamentos, Enzo jurou quando seu cavalo desviou evitando por pouco uma cortesã que estava saindo de uma casa correndo, seu amante nos seus calcanhares. Enquanto eles se afastavam, Enzo os olhava sem que eles tenham tido a mais ligeira atenção para ele , Enzo sorri e desceu do cavalo. Ao entrar na casa ele foi atacado por duas mulheres seminuas tão bonita uma como a outra. Quando elas passaram as mãos sob seus braços levando-o para uma sala onde estavam pares acoplados em todos os tipos de prazeres, Enzo pensou que tinha encontrado o lugar que ele estava procurando e o ia ajudar a remover a nervosismo que se tinha emparado com ele. Quando ele se viu deitado numa cama de dossel cercado por cortinas, seu corpo abandonado nas mãos de especialistas das cortesãs pensou-se no céu. Lascivo ele deixou-se explorar pela sensualidade das duas mulheres até que deixando cair as armas, ele foi levado pelos braços de Morfeu. Depois de uma noite onde todos os prazeres lhe tinham sido oferecidos, o dia subindo encontrou Enzo di Rivaldi adormecido entre as duas cortesãs. O sol que entrava através das rachaduras das persianas mergulhava a sala numa suave meia-luz criando sombras nos seus corpos nus. Enzo grunhiu, voltando-se, quando um raio pertinente jogou no seu rosto, forçando-o a abrir os olhos. Oferecendo as costas para as ninfas no tecto, ele tentou voltar a dormir, mas não conseguiu. Então abriu um olho preguiçoso e levantou-se, resmungando.
Risos e risadinhas e sons abafados o ensinaram que como acima que ao lado, vários moradores davam conteúdo coração para mostrarem que o amor não era obsoleto e que de dia como de noite era homenageado. Espreguiçando-se como um gato, ele pousou seus pés no chão de azulejos frios e caminhou até uma mesa onde um copo tinha sido abandonado. Uma forte odor alcoilizada subiu às suas narinas enquanto bebia vários goles queimando sua garganta e fazendo-o piscar. Sua cabeça as voltas, um suor frio subiu-lhe ao longo de sua espinha dorsal. Chancelando, deitou-se num sofá perto da janela francesa que abria para um pátio. Suas mãos agarraram os cantos, a fim de transmitir qualquer tensão nervosa. De olhos fechados, deixou seu corpo relaxar, bem que, ele sabia que os espasmos iam lhe torcer as tripas e o fariam dobrar. No inicio da sua doença, ele tinha procurado para controlar as dores e só conseguia com um grande esforço de concentração que o deixava sem energia. Mas agora estavam aumentando e ele preferia deixá-las passar. Lentamente ele se levantou e encolheu-se com seus braços em torno de suas pernas e manteve sua boca fechada sufocando seus gritos sobre as coxas apertadas uma contra a outra. Quando isto foi terminado, deitou-se novamente, ofegante o seu peito se levantava com o ritmo acelerado de sua respiração. Seus olhos escuros abertos foram cobertos com um véu de escuridão.
Passaram-se duas horas antes de ser completamente calmo, apenas seus olhos cercados traindo o mal que o ia roer em silêncio até a próxima crise. Então ele se levantou, lançando um último olhar para a cama onde as duas deusas estavam dormindo pacificamente. Depois de várias lavagens, então ele colocou suas roupas e passou a porta. É com alguma agilidade ele se afastou por opção de um corredor, tornando-se um traço minúsculo de sua passagem nestes lugares. Como ele passava em frente de uma porta entreaberta, ele parou. Deitados numa alcova vários homens e mulheres misturados de acordo com seus suspiros e seus abaulamentos carnais. Enquanto seus olhos permaneceram sobre os corpos nus, as imagens terríveis que assombravam as suas noites imprimiram-se na sua mente.
Através das névoas da sua mente ainda sonolento, um quarto escuro e sombrio lhe apareceu. De repente, seis candelabros de luz vieram iluminar as sombras que se acrescentavam com aquelas que os altos ornamentados vitrais devolviam de volta ao chão. Não muito longe, a silhueta de uma mulher repousava num altar. Outras figuras vestidas de preto chegavam e enchiam a sala, seus lábios entoando orações. Os encantamentos tornavam-se um tumulto crescente e três outras figuras avançavam em direção ao altar. Uma delas separada dos outros, a lâmina de uma faca brilhava na sua mão. Chegou perto da mulher deitada, enquanto a lamina se levantava para cair no peito de onde o coração foi extraído.
O punhal numa mão e o coração na outra o homem levantou os braços esticado-os e um com uma voz alta e gutural cantava a sua oferta. Na suas costas a forma de uma grande cruz virada para baixo se desenhava no muro, como a sombra aterrorizante do mastro de um veleiro fantasma.
Finalmente o homem (era agora uma certeza) baixou os braços e seus olhos vidrados fitando os corpos nus e e misturados dos adeptos.
Quando uma mão, mais real desta vez saiu para pegar Enzo, o movimento quebrou sua visão de horror. Abismado pelo choque de tal cena, ele estabeleceu um tempo para reagir e espantando finalmente com um movimento brusco a mão da ruiva que o desejava. Chateado, Enzo esqueceu a sua linda noite, os corpos entrelaçados e vários gemidos, e desapareceu.
Fora o calor da Toscana o acolheu. Mente ofegante, perturbado por essa maldição, fogiu para o palácio e entrou na propriedade Maltese pela porta de trás um servo lhe tinha indicado.
Sentado num banco, ele oferecia o rosto para o sol, enquanto sua respiração se acalmava o seu coração, diminuindo a sua batida, bombeando o sangue mais lentamente nas suas veias. A palidez de seu rosto foi perdendo terreno quando a cor foi voltando as bochechas. Inclinado para a frente, os cotovelos nos joelhos, a cabeça entre as mãos, ele então pegava vida quando um rir encantador chegou aos seus ouvidos.
Sem reflectir e para não ser visto naquele estado, escondeu-se atrás de um corte de pinhos na altura do peito. Logo alguém veio correndo. Uma menina lhe virava as costas, tentando se esconder de alguém. Usando um vestido simples, que revelava seus braços, ela espreitava seus perseguidores. Esta cena sóbrio Enzo que sorriu encantado. Do seu lugar, ele só via o seu abundante cabelo loiro, desta cor âmbar que tomavam as terras da Toscana nas noites de verão. Sua mão foi mais rápida do que o seu pensamento, e levantou-se para a seda acariciando-a lentamente. A jovem mulher sobressaltou riu, virou-se e encontrou-se agarrada nos braços de Enzo. Foi um oceano no qual ele afogou seus olhos que apareceram aos seus olhos negros, como se o tempo parava em torno deles, os lábios de Enzo pousaram-se suavemente sobre aqueles de sua prisioneira. O beijo foi doce e selvagem ao mesmo tempo. Durante o beijo suave e doce, o mar desapareceu atrás de uma floresta sombreada de cílios, quando ele reapareceu a menina olhou para ele atentamente, e com uma batida de coração desapareceu de volta para o som da chamada de voz.
- Chiara? Minha menina! Onde você está?
No final da manhã em frente de uma refeição Fabio Maltese dispensou sua filha de volta na parte da manhã e que se sentia um pouco indisposta. Mais tarde, o caso que o preocupava resolvido, ele cumprimentou o amigo com grande derramamento quando ele entrou em seu carro.
- Da saudades á sereníssima para mim, meu amigo.
- Não vou falhar Fabio.
Notando a falta de entusiasmo na voz do jovem, Fabio preocupou-se.
- Enzo, o que é essa desordem que habita teus olhos? Pareces-te cansado esta manhã ...
- Não meu amigo! Tudo está bem ... Gostaria apenas de dizer adeus a um belíssimo oceano .
Deixando o velho sobre estas palavras misteriosas, Enzo deu-lhe um sorriso de despedida antes de acenar para o cocheiro. Na rachadura do chicote os cavalos avançaram, tendo a carroça no caminho que os levaria a Veneza. Atrás de uma janela um oceano enfurecia sob a tempestade que fazia bater o coração da menina que no silêncio do seu quarto, jurava de nunca amar outro homem que ele.
Ali ainda o destino vai se mostrar tão doce que cruel porque vai-se passar um ano antes de ambos poderem confessar os segredos de seus corações.
Capítulo 4
Poucos meses após a visita do Enzo, Fabio Maltese estava sentado no mesmo banco que a noite onde tinha expressado suas preocupações ao seu amigo.
Depois de uma amena e temperada primavera que se tinha encarregado para trazer á natureza e aos homens todos os seus benefícios, o calor do Verão tinha-se instalado, sufocante.
Era ao anoitecer, quando o crepúsculo dava lugar a um frescor suave, que ele adorava sentar-se no banco de pedra, apreciando os aromas do jardim. Os ruídos que vinham da cidade se preparando para a noite de descanso para aqueles que haviam trabalhado duro o dia inteiro, festejante para os moradores da cidade nobre em busca dos prazeres da vida.
No entanto, o sulco profundo que crescia entre os olhos traíam a profunda preocupação que tinha sido pervasiva durante semanas, gradualmente, tirando-lhe o gosto do mesmo instante que noutras circunstâncias teria sido para ele um refúgio. Perda de apetite e noites sem dormir haviam cavado seu rosto e era um homem cansado fisicamente e moralmente, que forçou os lábios a sorrir para dar as boas-vindas á sua filha.
- Pai, você estava aqui, só podia.
Como ela afundava sua cabeça no oco do seu ombro, seu riso cristalino fez o efeito de um bálsamo reconfortante.
- Chiara mia, ele disse, acariciando o âmbar de seda. Amanhã é o início de uma nova vida para ti. Estou muito orgulhoso e feliz por tua felicidade.
- Eu sei que você está orgulhoso de mim, mas eu duvido às vezes. Eu adoraria saber o que mina você, para torná-lo tão triste?
- O que? Quando é que me viste triste?
-Às vezes eu olho para você pai, quando pensa que está sozinho. E, então eu faço-me perguntas.
-Eu sinto muito em ser a fonte de tua preocupação minha filha, mas não precisas mais pensar dessa maneira. Fica certa de que tudo está bem.Tentando esconder suas mentiras com um sorriso que se pretendia sincero o homem olhou para sua filha. Esta não parecia convencida.
- Pai, eu sei que nós ensinam, nós mulheres, para não intervir nos assuntos dos homens. Mas eu não posso deixar de pensar que sua tristeza é relacionada com a visita do banqueiro veneziano. Desde o dia que ele abalou, você nunca foi o mesmo.Estupefato o Fabio olhou para sua filha.
- Queres falar de Enzo di Rivaldi? Não, não te preocupes! Não tenho nenhum problema com ele é um jovem brilhante, que se prepara para um grande futuro nas ordens. Provavelmente ele vai se tornar um grande cardeal ....
A afirmação de seu pai, antagonizou Chiara que não conseguiu evitar a nota de decepção apesar de ligeira que tocou em sua voz.
- Um Cardeal?
Fabio continuou sem perceber a expressão de sua filha.
- Sim e finalmente lamento que não o tenhas encontrado, tenho a certeza que terias gostado dele.
Com as palavras de seu pai Chiara corou e abaixou a cabeça, suspirando. Antes da desordem de sua filha, Fabio ficou preocupado.
- Chiara? Então minha filha o que é este suspiro?
De repente o Fabio procurou os olhos de sua filha.
- Nunca poderei esquecer seus olhos escuros, o pai, é algum mal? Será que o viste realmente? Mas quando? Ficaste todo o dia no teu quarto naquele dia?
Realmente surpreso o Fabio não deixava a Chiara dos olhos.
- À minha chegada, eu escondi-me no pátio atrás de um corte de pinhos. Ele estava lá, e não sei como ele me tomou em seus braços e beijou-me. Eu estava tão chateada que eu não queria aparecer diante dele novamente. E fiz dizer que estava impedida.
- Pois sim vejo, se eu soubesse eu teria dito a minha maneira de pensar ... E....
- Oh! não pai. Chiara ficou envergonhada e deu alguns passos. Eu gostava de seu beijo e desde que eu não sonho com ele novamente. Embora já não é possível agora.
- Oh! Eu entendo agora. Ele falou de um oceano "Eu queria dizer adeus a o oceano", disse ele, é dos teus olhos que ele falava.
Por um momento ele olhou para sua filha hesitante.
- Gostas este homem?
Chiara acenou em resposta.
- Com loucura pai ..
- Mas por que não disseste nada antes? Eu teria falado com ele, e eu tenho certeza que ele te teria amado também. Oh! Meu deus é tão tarde, tarde demais ... Se eu tivesse sabido mais cedo ...
Ele continuou a falar, repetindo incessantemente frases andando para lá e para cá, preocupada a Chiara quase chorava quando ela gritou.
- Pai, peço-vos me diga o que está errado? Quem é Enzo di Rivaldi? Por que você está sempre a repetir que é tarde demais? O que é que é tarde demais, pai?
Com os gritos de sua filha, o Fabio parou. Hesitando, ele olhou para ela sem saber o que fazer ou dizer. Um suspiro escapou de sua boca e quando estava prestes a falar o som de passos no corredor o alertou. Em dois paços ele estava ao lado dela, com as mãos nos seus ombros, ele olhou nos olhos de sua filha uma profunda preocupação se refletia no seu olhar. Ignorando suas perguntas, ele disse com uma voz ansiosa.
- Chiara! Promete-me, se alguma coisa no futuro te preocupar que eu não estou aqui para te ajudar, entre em contato com ele! Vai para Veneza, vai vê-lo, ele te ajudará!
- Pai eu não entendo ... Eu
- Promete-me Chiara, ele disse com um tom mais baixo, sem a deixar terminar de falar.
- Sim, pai, eu prometo, irei, se isso pode tranquilizá-lo.
Chiara tinha baixado a voz imitando o tom de Fabio, que continuava a fixa-la, como se a via pela última vez por trás de uma névoa de lágrimas, ela tentava reconhecer o homem que a segurava com tanta força como se ele se agarrava à vida a través ela.
- Então, vocês estão aqui os dois?
A voz de Sylvia Maltese fá-los se destacar um do outro. Os dois a fixavam com olhar de culpa.
- O que está acontecendo? Interrompi alguma conspiração?
No meio do silencio ela insistiu.
- Então? ....
- Sylvia! Junta-te a nós, Fabio disse, tomando-lhe as mãos quando ela chegou á sua altura. A Chiara estava me contando como estava feliz de se casar com Francesco, não é, minha linda?
- Como poderia ser de outra forma, Francesco é tão delicado.
Enquanto falava, a Sylvia deixou as mãos do marido e olhou para sua filha, um ar indefinível no olhar. A semelhança entre as duas mulheres era marcada pelo mesmo cabelo âmbar. Longo e ondulado, um pouco mais lavado na mãe e amarrado num coque estudioso, enquadrava sua cara oval, suave na Chiara e mais forte na Sylvia, a partir do qual emanava a mesma energia viva. Seus olhos azuis que eram indistinguíveis pela tonalidade mais escura na Chiara, os íris tendo a fazerem-se cinzentos como um oceano sob uma tempestade, dando-lhe um ar de misteriosa beleza e serena. Os da Sylvia eram claros, atraindo os olhos dos outros, sem nunca se revelarem. De tamanho similar, e multa, ambas tinham lábios carnudos e pele bronzeada e vermelha das Florentinas habituadas a viverem no exterior. Um corse de renda discreta envolviam os seus seios redondos e altos.
- Acho-te um ar estranho Chiara, tens alguma coisa a esconder?
- Não mãe, só tenho pressa de abalarmos. Além disso, vou ver com Luisa se ela terminou de preparar as malas.
- Iniciativa muito boa, e Deus queira que nada venha atrasar nossa partida.
Um sorriso nos lábios Chiara assentiu. Resignação, dor indizível se refletiam nos olhos de seu pai quando se meteu de bico de pés para beijar seu rosto. Como ela demorava, ele envolveu-a com um braço e empurrou-a suavemente para o palácio.
- Não te preocupes está tudo bem. Ele sussurrou. Mas não te esqueças o que me prometes-te.
- Sim, pai, ela respondeu no mesmo tom. Não vou esquecer.
Quando chegaram à porta do escritório de Fabio, ele ainda se curvou e disse com voz alta.
- Buonanotte mia Chiara.
- Buonanotte padre.
Em frente da porta de vidro ele olhou Chiara abrir e fechar a porta atrás dela, em seguida, retornou à sua esposa com um passo alégre.
- Realmente, como você parece misterioso esta noite ! Aconteceu algo que eu não tenha sido informada?
- Não, cara mia nada disso, não se preocupe?
Enquanto ele falava, ele se sentou ao lado de sua esposa.
- Você não pode culpar um pai de ser compartilhado entre a felicidade de ver sua filha feliz e tristeza de a perder.
- Não, claro! Ela disse, plantando seus olhos nos de seu marido. Fabio! Espero que você não a preocupou com fabricações sobre a família de Francesco!
Fabio Maltese suportou a fixidez dos olhos de sua mulher sobre ele, olhando para trás do seu olhar venenoso, a mulher que ele tinha escolhido para compartilhar suas alegrias e tristezas. Por um momento, nos anos dourados, onde o sucesso de seus negócios tinha-os unido nos momentos mais difíceis, onde teve que lutar para chegar ao topo, num mundo onde o simples fato de não ser nobre poderia deixá-lo numa total destituição. Com a morte de seu pai ele herdou uma pequena fortuna, que foi reduzida a quase nada uma vez que seus débitos foram pagos.
Foi a força do seu punho e uma viagem que o levou a Veneza, onde conheceu o banqueiro Giacomo Montebello di Rivaldi. Rico com o seus conselhos, e um empréstimo que ele lhe dera, ele subiu na hierarquia da sociedade, fazendo-se igual aos maiores do mundo.
Sua felicidade foi completa quando, durante uma viagem à França conheceu Sylvia. De pequena nobreza e sem dinheiros, apenas o nome, a quem antepassados tinham dado fama por sua coragem e lealdade à coroa, mas permitiu que eles tocassem os escalões superiores do reino.
Num dos múltiplos movimentos do casal real no qual eles pararam no castelo do senhor do concelho, a beleza e a graça de sua filha Sylvia tinha atraído as bondades da rainha. Então, ela foi convidada a integrar a procissão que concluirá sua viagem no Louvre. Se ela perdeu o título de condessa ao casar com Fabio em troca ela encontrou a opulência da riqueza de um homem fisicamente bonito. Um orgulho de ter casado com uma mulher que o olhar invejoso dos outros homens seguiam cada um de seus movimentos, foi adicionado o de descobrir nela uma mestre nos negócios e na diplomacia.
A tabela a quase perfeita de sua vida juntos, tornou-se ainda mais o nascimento de Chiara, no qual Sylvia quase perdeu a vida, que a fez tomar a decisão de não dar vida a outras crianças. Foi na busca desse meio que ela conheceu a mulher que se tornando-se a mãe de Francesco, perderá sua vida. Muito ligada a esta família - as duas crianças compartilharão os mesmos jogos até a adolescência- ela promete ao pai a mão de Chiara para seu filho.
Confrontado com o controle constante de Sylvia na frente dos obstáculos, Fabio simplesmente desvaneceu-se gradualmente, contentando-se de assinar cada contrato, que não poderia levar o nome de sua esposa por lei.
Foi também nessa época que a Sylvia mudou. Ela que sempre tinha sido cheia de piedade com os pobres, tornou-se versátil e sem escrúpulos para aqueles que tentavam resistir.
Enquanto isso, Fabio enfraquecia, um mal que ninguém sabía nomear o roía do interior, ampliando mais após a visita do Enzo di Rivaldi.
- Não Sylvia, não a preocupei com meus medos, um paciente Maltese é mais que suficiente.
- Quais são essas insinuações que você está aí a fazer? Ela perguntou ferozmente, subindo abruptamente. Você está a me acusar de ser a causa de sua doença?
- Eu não acuso ninguém cara Mia, mas admita que você mudou muito desde que chegou a conhecer esta família.
- Claro que eu mudei! Agradeço Giuseppe di Falco, que me ensinou a necessidade de ser mais do que uma boa negociante e uma fina diplomata para ter sucesso!
- Não lhe mostrei isso tudo, Sylvia? E diga-me se ele foi de tão bons concelhos, como é que ele fez para deixar sua própria família cair na ruína?
- É que os negócios com você em breve se tornaram chatos.
Marcando ali uma pausa, ela se aproximou dele, e usou essa voz cínica que ela gostava de utilizar com os que ela queria escravizar, acrescentou.
- Devo dizer que tudo se tornou rapidamente chato com você! Se Giuseppe está arruinado, é precisamente por causa dos conselhos errados que lhe foram dados. Com a dote da Chiara, ele vai se recuperar rapidamente e fazê-la crescer.
Estas palavras fizeram o efeito desejado, vendo Fabio tornar lívido, Sylvia jubileu. No entanto, diante da figura magra que se levantou e caminhou na sua direção, ela só teve que recuar, o sulco entre os olhos se escavava um pouco mais dando ao rosto do seu marido um ar sinistro.
- Minha pobre Sylvia, espero que você nunca se venha a arrepender daquela que foi um dia. A pessoa que me apareceu como um anjo, porque a mulher diante de mim hoje, mais parece ser possuída por algum demônio, que sendo descida do céu. Tenho pena de você, porque eu tenho certeza que um dia, as suas lamentações se tornaram remorsos.
Um silêncio pesado se estabeleceu entre eles, quebrado pela risada desdenhosa de Sylvia, cujo corpo havia sido atravessado por um terremoto que tinha sido difícil de controlar.
- Você é um velho tolo! Doente! Ela disse, levantando a voz, eu não me importo com sua piedade patética. Mas tome cuidado para não prevenir Chiara contra mim, envenenando sua mente com suas suspeitas doentias, se não vou parar de o proteger.
O resto da frase tinha terminado num sussurro, que se misturavam com as sombras do crepúsculo. A voz de sua esposa ecoava na sua cabeça, quando na privacidade do seu quarto, Fabio, uma mão no seu coração estava tentando acalmar as batidas. Sua cabeça pousada no encosto da cadeira baixa na qual se tinha deixado cair, olhando para o tecto, enquanto as queixas surdas, lhe vinham á garganta. Fechando os olhos por um momento, que ele logo abriu num impulso e se levantou. Sentado atrás de sua mesa de madeira fina, ele começou a escrever com uma pena desajeitada. O destinatário da carta a receberia provavelmente tarde demais para ele, mas pelo menos ele poderia salvar Chiara.
Era a única esperança que tinha o seu amor de pai, desde que ele se tinha convencido de que seu corpo estava apodrecendo por dentro, pela dose de veneno que lhe davam a beber no licor que ele gostava de tomar antes de ir para a cama. Quando ele acabou de escrever, levantou-se e foi a prateleira de livros ao lado da porta e pressionando a borda de um deles, ela deslizou. Umas escadarias conduziram os seus passos até a uma rua estreita, calma e escura, entrou por ela adiante e chegou ao fim de uma rua que conduzia a uma grande praça. Uma vez lá, ele notou a presença de um rapaz cujo corpo era robusto e espantava os bandidos, em vez de atraí-los.
Nos quinze minutos que se seguiram, um mensageiro armado e enriquecido com uma bolsa cheia de dinheiro metia-se a caminho de Veneza.